Banheiro seco: nosso estágio em bioconstrução
- Cecília Gomes
- 18 de jan. de 2021
- 4 min de leitura

Nesta imagem, nosso banheiro seco começa a tomar forma. Antes, é preciso dizer que esta experiência está sendo nosso "estágio" em bioconstrução. Nunca construímos nesta técnica, mas temos lido o Manual do Arquiteto Descalço, de Johan van Lengen, assistido a vários vídeos, acompanhado as experiências compartilhadas em grupos de bioconstrução no Facebook.
Sabemos que o conhecimento precisa encontrar a prática e a partir deste estudo, desta experiência, aprender a construir a nossa casa do sítio.
Bom, como podem ver na foto, fizemos um alicerce com colunas de concreto (furamos o solo e concretamos com um vergalhão). Feito isso, colocamos os bambus tratados por capilaridade com ácido bórico e sulfato de cobre. As paredes de alicerce foram construídas com pedras extraídas no próprio terreno, assentadas com solo-cimento.
Enxertamos concreto dentro do primeiro e do último gomo do bambu. Faremos as paredes em pau a pique e um telhado verde de cobertura.
As decisões: separar ou misturar cocô e xixi?
Essa é uma dúvida muito comum e também foi a nossa: o que fazer e como fazer com as fezes e urina? Bom, primeiro veio a etapa de entender nosso próprio corpo e isso foi determinante para tudo... especialmente onde construir. Que não fosse muito longe (já pensou o aperto de uma diarreia? Ter que subir morro, ir longe?) e nem muito perto... vai que o projeto não funcione como o planejado e o odor comece a invadir a casa?
A partir daí, passamos a observar o terreno. A gente tinha visto o sistema Bason, no qual os dejetos são compostados com serragem, folhas secas e cinzas são retirados por uma portinhola, mas tem outras necessidades de aquecimento e manejo... optamos por um sistema de coleta dos dejetos compostados que permanecem acondicionados em bombonas coletoras (tambores grandes).
Então, de repente o barranco nos pareceu uma boa solução para essa estrutura de ter que abrir o local para retirar esse tambor cheio e substituir por outro vazio.
Na foto abaixo, dá para visualizar como ficarão as bombonas coletoras. Optamos por termos dois assentos: um para fazer o cocô e outro exclusivamente para fazer o xixi. Ou seja provavelmente terá uma placa: "Não cague aqui" kkkk.
Ah, vale explicar um pouquinho mais como funciona esse sistema:
1) Você entra na casinha
2) Suponhamos que você está com vontade de fazer o número 2... vai lá no assento indicado e alivia-se
3) Limpa-se e descarta o papel num lixinho que tem dentro da casinha
4) Abre um compartimento que estará ao seu alcance e retira de lá umas canecadas de uma mistura que contém cinzas e serragem (ou folhas secas trituradas) e joga sobre o seu cocô para que o próximo a utilizar o banheiro tenha uma privada limpa. É como se fosse a descarga!
5) Lave as mãozinhas
6) Você sai da casinha feliz, pronto para a próxima missão.

Por que dois assentos?
Porque um dos assentos não irá guardar a urina. O xixi será conduzido por tubulação até uma área longe. Faremos de uma maneira que será possível mudar a direção do cano de destino final - isso para não sobrecarregar e causar excesso deste recurso em uma única área. Portanto, esse assento não pode receber cocô porque vai entalar na tubulação e depois contaminar uma área.
O outro assento será para a gente fazer cocô e este sim coleta e armazena os dejetos. Pode ir xixi junto, não tem problema. Não vamos colocar o separador. Vamos testar se esse pouco de urina que sai ao fazer as fezes prejudica ou não a compostagem. Já lemos que não. O que a gente imagina é que vamos acabar colocando mais serragem e cinzas a cada "descarga" - o que contribui para que o tambor encha mais rápido. Como disse, é um experimento. Estamos torcendo para que tudo funcione bem... mas se não funcionar, vamos aperfeiçoar e compartilhar a experiência por aqui.
Ler sobre essas coisas é esquisito?
A gente não é acostumado a falar, muito menos pensar sobre nosso cocô e nosso xixi. Geralmente a gente lembra deles quando nossa saúde não vai bem ou tem que fazer exames, não é? Frequentemente nos distraímos fazendo leituras... agora nos tempos modernos, ficamos divagando nas redes sociais. Sequer percebemos os detalhes de como nossos órgãos operam neste ato.
Pois na permacultura o nosso cocô é vida. É um recurso valioso e que pode ser muito útil. Aquilo que a gente come é processado pelo nosso corpo e pode voltar à terra para fazer árvores crescerem mais fortes, adubar plantas ornamentais. Por isso ele é vida.
As fezes e urinas coletadas na bombona ficam descansando 6 meses para eliminar os possíveis patógenos e depois de descansarem em uma composteira poderem ser reaproveitadas. É um ciclo bonito e contínuo.
Para quem nasceu e se criou nas cidades, centros urbanos com estrutura de saneamento básico falar sobre nossos dejetos pode parecer esquisito, feio, desagradável... mas isso é porque atribuímos este significado de coisa suja e inconveniente.
Se você pensa no seu cocô e xixi como algo vital, começa a achar esquisito outras coisas, como por exemplo:
- Contaminar água limpa (um recurso cada vez mais escasso) com fezes e urina
- Desperdiçar este recurso em potencial
Ah, mas e o cheiro? Não é desagradável? Não sabemos. O que lemos - e iremos testar na prática para ver se corresponde à literatura a respeito - é que o respirador que instalaremos no banheiro dá conta de não deixá-lo fedido, assim como as cinzas que são adicionadas ao composto que funciona como nossa "descarga".
Que venha a experiência!
Para saber mais sobre esse tema polêmico e essencial, recomendo um site que nos ajudou a tomar decisões sobre o banheiro seco: Alternativa Permacultura.






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